Mulheres Gamers – Homenagem dos Nós Nerds
Games tem uma característica poderosa que é conquistar o público seja ele o mais diversificado que for, independentemente do gênero, etnia, idade, classe social, nacionalidade, posição política, sexualidade, crença etc. E entre esses grupos, iremos destacar o público feminino que vem se mostrando forte como consumidor de jogos. Podemos ver essa força na última Pesquisa Game Brasil, realizada em 2019, que revelou que as mulheres são 53% da comunidade gamer no Brasil, sendo pelo 4ª ano consecutivo a maioria entre os gamers. Um dado interessante e que se considerarmos que mulheres gamers cultivam seu apreço por jogos desde a tênue idade, podemos em retrocesso traçar jogadoras que, assim como eu, carregam histórias, tanto as jogadas quanto a sua própria quando o assunto são sua inserção no mundo dos jogos.
No alto dos meus 24 anos, momento que escrevo esse texto, preciso dizer que padeço da condição de ter um carinho pelo passado, mas sem ser saudosista, porém não sou muito boa de memória. Até porque memórias quando afetivas demais podem nos enganar, mas digo sem sombra de dúvidas que meu primeiro contato com games veio ainda na infância. Joguei em fliperamas jogos como Streets of Rage, em consoles, que não eram meus e que não me recordo o nome, jogos como Sonic, Super Mário, Top Gear e Contra, em lan-houses jogos como Counter-Strike.
Quando finalmente pude ter um PC, ainda na infância, veio meu maior encanto com jogos em títulos como Halo CE, GTA San Andreas, Far Cry, BioShock, Mass Effect, The Witcher. Só pude ter um console videogame para chamar de meu tempos depois do hype deles que foi o PlayStation 1 e posteriormente o PlayStation 2, e aqui veio mais um encanto em jogos como Tomb Raider, Silent Hill, Resident Evil, Metal Gear, God of War, Mortal Kombat, Medal of Honor, Need For Speed entre outros. Fiquei apenas com o combo PC, depois atualizado, e PS2 por um bom tempo e acompanhando os jogos dentro dessas delimitações, apesar de não acompanhar os lançamentos religiosamente, pude me divertir como a criança simples que fui e jogando o que cabia no orçamento. Até um período na juventude aonde deixei os jogos e foquei nos estudos, para então na fase adulta voltar aos poucos após adquirir um Xbox One e segue até hoje, e aqui a lista pode ser conferida na minha humilde gamertag ‘RasA1gethi’.
As histórias que crescemos jogando compõem nossa história. Ainda na época dos anos 2000, e antes, havia o estigma de que videogames eram “coisa de meninos”, e meninas que se diferenciavam gostando de videogames eram tidas como fora do meio. Videogames não eram inseridos naturalmente ou automaticamente na criação das garotas, com algumas exceções, é claro, mas como a palavra diz são “exceções”, diferente da regra. Comumentemente aquelas que se interessavam tinham que ir atrás com mais afinco, até para fazer valer seu lugar em um espaço que era visto como “incomum” para elas.
Tal mentalidade ainda perdura, mas sob novas roupagens. Se antes o ponto era a inserção e acesso, após se verem dentro do meio, as meninas e mulheres precisam provar que merecem estar naquele lugar tanto quanto qualquer um. Frases como “isso não é coisa de menina”, comuns na infância, ganharam seus sucessores na vida adulta através de frases como “e a louça, tá lavada?”, que apesar de indireta, e problemática em outras análises, revela a quem supostamente aquele lugar pertence, e não são as mulheres gamers.
É, lamentavelmente, cultural mulheres terem que provar seu direito de estar em um lugar, dado uma história pautada, contada e focada naquelas aonde homens são usualmente os protagonistas, além de outros fatores. Na jornada da biografia dos games não é muito diferente, temos jogos feito em sua maioria por homens e para homens, personagens femininas quando existem são geralmente limitadas como parte do arco de desenvolvimento do protagonista masculino ou precisam ser salvas pelo herói. Protagonistas femininas existem, mas aqui novamente são a exceção e não a regra, e isso sem adentrar muito na questão de como são retratadas, o que daria um texto inteiro dedicado ao assunto. Esses fatores, isolados ou não, culminam no ponto da “representatividade”, além, é claro, de fomentar comportamentos sociais problemáticos no meio gamer e fora dele, como os já citados e assim por diante.
As marcas deixadas pelos primeiros longos anos da era dos jogos digitais ecoam até hoje em mentes retrogradas demais para acompanhar a realidade que o cerca como iremos abordar mais a seguir, entretanto no fator representatividade e retratação pode haver um certo otimismo e esperança. Seria contraditório na evolução do mundo gamer vermos cada vez mais um público tão feminino e diverso, mas não necessariamente vermos essa diversidade nos jogos. É notável que de lá para cá evoluímos na representatividade, hoje há mais jogos com personagens femininas fortes, em locais de protagonistas, bem desenvolvidas, complexas, que saem do lugar de precisarem sempre ser salvas para o lugar de salvar a história, além de paulatinamente termos a opção de escolha do gênero do nosso personagem.
É positivo cada vez mais no desenvolvimento de jogos vermos tal representatividade feminina, exemplos notórios são o reboot de Tom Raider, Dishonored 2 e Death of the Outsider, Assassin’s Creed: Odyssey, Far Cry 5, Battlefield V, Gears 5, FIFA 19, franquias famosas sendo repaginadas ao incluir mulheres, mostra como esse ponto tem sido tratado com mais atenção. Além de novos títulos com mulheres incríveis em posição de destaque como Hellblade: Senua’s Sacrifice, Horizon Zero Dawn, Nier: Automata, Control, Wolfenstein: Youngblood, Resident Evil 3, The Last Of Us Part II.
Um dado interessante que vale levantar é que segundo a mesma pesquisa citada no começo do texto, nas companhias produtoras de jogos, 20,7% dos cargos são ocupados por mulheres, enquanto 79,3% são ocupados por homens. Uma equipe diversa possibilita trabalhos diversos e inclusivos sendo pensados e desenvolvidos, além de outros elementos inovadores como já abordei em um pequeno artigo de minha autoria que pode ser lido aqui.
Não entenda isso como “então o que está sendo dito é que não deve haver estórias com homens protagonistas? Homens não merecem estar aonde estão?”. Não, ninguém está pedindo para acabar com essas estórias, apenas para haver também, veja: também, mais estórias aonde mulheres tem espaço na narrativa e protagonismo. Só o que está sendo pedido aqui é para incluir também mulheres e repensar seus papéis. Para homens em geral essa ideia pode não parecer muita coisa, mas é porque esses estão habituados a se verem na histórias, diferente das mulheres que se veem apenas com a baixa ou falta de representatividade.
Um elemento comum que também parte da inverdade de que jogos não são para mulheres, é a ofensividade tóxica no meio multiplayer para com elas. É parte da comunidade multiplayer ser mais enérgica e por vezes agressiva, mas com mulheres esse lado pode ser exacerbado pelo simples fato da jogadora ser mulher, como ofensas menosprezando o papel do gênero, desdém e dúvidas sobre as habilidades da jogadora. Jogadores homens comentem erros no jogo, qualquer jogador está suscetível a isso, e não vemos xingamentos depreciando seu gênero, assim como não vemos dúvidas sobre a habilidade de um player pelo fato exclusivamente de ser homem.
Se a caminhada no meio gamer habitual pode ser difícil para mulheres, no meio multiplayer essa caminhada vem acompanhada de todos os fatores desestimulantes possíveis, como se constantemente barreiras devem ser quebradas. São comuns relatos de mulheres que em algum grau passou ou presenciou algo dessa natureza, eu inclusive, e não são meros casos isolados. Tudo isso vai contra a ideia e cerne dos jogos que são produzidos para entreter um público que busca algum bem-estar e diversão naquela produção e não espera que seu gênero seja alvo de tanta hostilidade.
O futuro dos jogos é promissor e é um futuro aonde mulheres podem se ver cada vez mais inseridas. Se antigamente videogame não era coisa de menina, hoje é mais aceito a ideia de que meninas podem ganhar um videogame, meninas estão jogando mais. Mas ainda há o que melhorar visto os percalços que mulheres ainda enfrentam em fazer valer seu lugar como gamer em alguns casos, mas sendo elas mais de 50% desse público, vemos que seu lugar já foi conquistado desde o primeiro momento. Há mais streamers sérias transformando seu amor aos jogos em entretenimento além da representatividade e inspiração para outras meninas. Há mais times femininos em eSports apesar das dificuldades e machismo ainda enfrentados que novamente daria um texto a parte.
Mas o ponto é que mulheres estão ocupando os espaços no mundo dos games a despeito das adversidades e da crença de esses lugares não lhe pertence. A conscientização de que mulheres merecem estar ali quanto qualquer outro é individual e coletiva, e todos ganham pois games são sobre o amor as experiências incríveis que eles trazem a cada um que o joga. Que esse dia das mulheres e todos os outros sejam comemorados com jogos e uma compreensão: diversidade, inclusão e respeito sempre. Feliz nosso dia!
Informe Publicitário
Adquira já
Se você gostou deste post não deixe de registrar sua participação através de dicas, sugestões, críticas e/ou dúvidas. Aproveitem para assinar o Blog e o canal do Youtube, e participem do nosso grupo do Facebook para acompanhar nossas publicações e ficar por dentro das notícias do mundo gamer, concursos e promoções!