2 de julho de 2024
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Papo de Bar – 1983: O Crash da Indústria Gamer

A indústria dos videogames está em franca ascensão. O momento atual, a pandemia generalizada, deixou em evidência o quanto essa forma de entretenimento é importante. Afinal, ela tem o poder de juntar amigos que estão, às vezes, separados por poucas quadras, ou países inteiros. Mas na década de 80 esse colosso que temos hoje quase quebrou. Tudo graças a uma decisão judicial que abalou profundamente o cenário e praticamente o matou. Como vamos ver nesse Papo de Bar.

Do Início ao Auge

O que hoje conhecemos como a grande e poderosa indústria dos videogame iniciou basicamente com dois títulos que são relevantes até hoje: Space Invaders e Pac-Man. Esses jogos eram verdadeiros devoradores de fichas e estavam presentes em quase todos os tipos de estabelecimentos imaginados: bares, restaurantes, supermercados e onde mais tivesse uma tomada e uma parede para se apoiar.

Quando esse fenômeno foi notado, todos passaram a criar os seus próprios jogos. Já que muitas crianças e adultos estavam dispostos a depositar as suas preciosas moedas nos arcades. Os dono de estabelecimentos estavam muito felizes, já que era dinheiro que entrava sem fazer praticamente esforço nenhum. Porém, dentre os inúmeros jogos, poucos caíam na graça dos jogadores, alguns por terem controles esquisitos, outros por serem difíceis demais.

No começo dos anos 80, mais especificamente no ano de 1981, a indústria já havia movimentado mais de Us$10 bilhões de dólares, cerca de Us$ 28 bilhões de dólares com os valores corrigidos atualmente. Esse valor, já na época, era superior aos valores arrecadados por Hollywood e pela música pop. Em 1982, o faturamento da indústria subiu em cerca de 12%, alcançando em os Us$ 12 bilhões de dólares. Mas tudo mudou graças a uma decisão judicial proferida naquele mesmo ano.

O Pulo do Gato 

E antes de falar sobre o que foi essa decisão, vamos voltar um pouco no tempo, mais especificamente para 1979. Alguns funcionários da Atari, que era a soberana da época, se cansaram de práticas que, para eles, eram extremamente injustas. A empresa não tinha o hábito de pagar royalties ao desenvolvedores e também não os creditava por suas obras. Isso os motivou a sair e fundar uma empresa conhecida por todos, a Activision. Eles escolheram esse nome por um motivo peculiar: eles apareceriam antes da Atari na lista telefônica. Um tanto irônico se pensar pelo prisma atual.

Jogo Decathlon, lançado em 1983

Tudo ótimo para os funcionários, mas a Atari não ficou nada feliz com o movimento deles. A empresa então tentou de todas as maneiras possíveis impedir com que a nova concorrente fizesse cartuchos para o console da Atari. Eles resolveram então entrar com um processo para cima da Activision.

Segundo a Atari, a Activision estava roubando segredos industriais e não pagava absolutamente nada a eles por lançarem os seus jogos nos consoles da Atari. O processo correu durante o 1982, até o momento onde a Atari decidiu retirar a ação e fazer um acordo. A partir daquele momento a Activision poderia lançar seus jogos tranquilamente para o Atari 2600, desde que pagasse os royalties.

Isso transformou o console em uma plataforma aberta para todos os desenvolvedores. A Activision aproveitou o bom momento e lançou diversos jogos.

Gary Kitchen, ex-game designer disse em entrevista ao programa G4 Icons que: “nós costumávamos brincar na Activision que era só programar os cartuchos e jogá-los no ar que dinheiro cairia do céu. Cada jogo que fazíamos vendia entre quinhentos mil e um milhão de cópias, a margem de lucro era extraordinária”.

Mas isso gerou também um gigantesco problema no mercado. Agora qualquer um poderia produzir os seus próprios jogos, e empresas começaram a brotar de todos os cantos. O que aumentou profundamente o número de jogos disponíveis. Além disso, diversas empresas começaram a lançar os seus consoles, inundando as lojas de opções.

E esse efeito começou a ser notado no ano seguinte, em 1983.

O Dia que a Indústria Quebrou: O Grande Crash

Quanto mais opções melhor, certo? Nem tanto. Com as comportas abertas, a qualidade dos jogos começou a cair vertiginosamente, o que fez com o público passasse a escolher melhor o que iria comprar. Muitas empresas não aguentaram o tranco e começaram a  contrair um grande prejuízo, e muitas chegaram à inevitável quebra.

Essa melhor seletividade e a quebra de muitas empresas fez com que os valores cobrados nos cartuchos também caíssem. Segundo entrevista dado pelo jornalista Billy Kunkel ao programa G4 Icons, “não importava o quão bom fosse o jogo, era difícil vendê-lo por trinta ou quarenta dólares, quando com o mesmo valor você poderia comprar quinze jogos, mesmo que todos esses fossem horríveis”.

Esse efeito cascata atingiu também às principais desenvolvedoras da época, já que os jogadores preferiam a quantidade à qualidade. Muitos estavam acostumados a comprar diversos títulos por alguns poucos dólares e se recusavam a pagar o valor cheio nos títulos.

Gary afirma que “A indústria quebrou realmente depois do Natal de 1983, quando as vendas realmente despencaram, algo em torno de 84%, foram para aproximadamente um quinto do que era antes”.

Os lucros da indústria dos games foi praticamente dizimado. já que entre os anos de 1983 e 1985, houve uma queda de aproximadamente 97%. Outro fator que contribuiu para esse caso foi a total repulsa dos lojistas pelos jogos e consoles. Muitos deles baniram esse tipo de produto, preferindo trabalhar com qualquer outra coisa.

Pilha de jogos do Atari. Fonte: 8-Bit Rocket

Tudo só voltou ao normal no ano de 1985, quando a Nintendo lançou um robô que casualmente trazia junto consigo um console. Porém, isso é papo para uma outra postagem.

Isso ensinou uma valiosa lição, não só para os desenvolvedores de jogos, mas também para os criadores de hardware. O que vemos atualmente, com três grandes empresas brigando pelo pódio, além do PC, é um reflexo desse acontecimento. No final quem ganha somos nós consumidores, já que temos opções e podemos escolher onde vamos investir nosso precioso dinheiro.

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Ailton Bueno

Um treinador de Pokémon aposentado que abandonou a carreira para escrever sobre joguinhos. Nos tempos livres, eu me enveredo pelos mais longos JRPGs que encontro e perco várias horas treinando explorando os mundos.

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