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AgraGames – Entrevista com Rodrigo Terra

EscritosGames e Tech

O Nós Nerds teve o prazer de entrevistar o Presidente da AbraGames, Rodrigo Terra, na Big Festival.

Nós Nerds: O que é a AbraGames?

Rodrigo Terrra: Nós somos uma Associação civil sem fins lucrativos.

AbraGames. Foto de Eduardo "Sgt Rock 1967" Rocha entrevistando Rodrigo Terra
Eduardo “Sgt Rock 1967” Rocha entrevistando Rodrigo Terra

NN: E vocês trouxeram uma ideia muito legal para dentro do mercado dos Games, que é juntar desenvolvedores e criar uma associação para que você consiga levar para fora do Brasil o nome dos desenvolvedores. De onde veio essa ideia?

Rodrigo Terra: Então, a AbraGames, tem 18 anos. Surgiu em 2004 com os primeiros desbravadores do mercado de games profissional. Querendo criar um estúdio não como Hobby, não como pesquisa, etc., mas querendo realmente ter um meio de subsistência.

Os associados são as empresas do mercado, da indústria e os estúdios. Nesses 18 anos, a gente passou de 10 ou 15 estúdios que tinham aqui no país para mais de mil, hoje, liberamos uma pesquisa, que é o primeiro mapeamento do mercado brasileiro.

A AbraGames junto com agência de exportação, de promoção de exportação, que é a Apex Brasil, criaram o programa de exportação chamado Brasil Games.

Ao longo desses anos a grande missão da AbraGames foi e é, e pretendemos que seja sempre, representação e o fomento e o crescimento da indústria de desenvolvimento de jogos do país.

O Brasil está começando a pegar uma rampa de crescimento. O objetivo é que a gente consiga ser top 5 também em desenvolvimento de jogos. Hoje a gente é top 5 de consumo de jogos no mundo. Mas a gente quer que o Brasil seja top 5 também no desenvolvimento, que a gente consiga, também, ser essa cara latino-americana brasileira, que a gente possa mostrar para o mundo também.

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NN: A ideia é também trazer jogos latino-americanos e até de outros lugares do mundo para participar do Big?

RT: Exato. O Big tem esse caráter internacional, sempre olhando para o ecossistema indie. A gente pode discutir o que é indie hoje, em 2022, mas o intuito é que a gente traga sempre essa visibilidade pra Latino América, e trazer visibilidade para os jogos que estão feitos nos outros lugares do mundo, como festival internacional, como evento internacional, é missão também dar visibilidade no território, principalmente como reconhecimento desses outros produtos. Mas é óbvio que o foco é o mercado local brasileiro, é o mercado latino americano, que a gente com certeza vai continuar fazendo isso. O DNA do Big é independente, e é por isso que a AbraGames apoia.

NN: Como estratégia de negócios do Big, a questão de você levar, de trazer o de fora, facilita a ida para fora.

RT: Facilita.

NN: E aí, obviamente, você vai ter uma troca de negócios. Deixa eu fazer uma pergunta direcionada ao que você já tem de conhecimento de mercado. Hoje, quais são as 2 ou 3 maiores dificuldades no mercado para quem está desenvolvendo jogos. Para quem está começando, para quem está no meio, para quem já está mais experiente?

RT: Acho que tem uma primeira, que é uma clássica ainda, infelizmente, uma clássica brasileira, que é ter acesso a equipamentos de desenvolvimento. Hoje, tudo bem, a barreira de desenvolvimento é muito baixa, se você tiver um PC você já pode começar a desenvolver um jogo. Ainda não é possível desenvolver jogos um pouco mais complexos dentro de um smartphone, apesar de que a gente já tem iniciativas nessa linha, de usar outros devices para construção de jogos. Mas você ainda tem uma barreira de entrada e quando começa a pensar no PC, você pensa: Vou trabalhar com mobile, trabalhar com smartphone ou mesmo jogos de PC propriamente dito.

Quando você vai para console, já começa a ter uma segunda barreira de entrada, não precisa só de PC, precisa também de um kit de desenvolvimento para aquele equipamento. E aí a gente começa a ter outros entraves, inflação, disparidade de dólar, problema de importação, entendimento da receita e de outras instâncias governamentais que fazem regulação.AbraGames. Foto de palestra do BIG Festival, Rodrgio Terra na ponta direita

E o outro ponto é a parte de “onde eu começo? Para onde eu vou?” Hoje, como a gente apresentou na pesquisa, são mais de 4.000 cursos que a gente tem de graduação e de pós-graduação, de cursos técnicos profissionalizantes, todos na área de jogos, mas são todos também basicamente iniciativas privadas.

Nós temos que aumentar a acessibilidade, nós precisamos ter mais desse conhecimento também no ensino público, a gente poder ter mais cursos profissionalizantes, técnicos, curso de graduação, pós-graduação, pesquisa em mestrado também, nós já temos, mas acho que pelo ritmo que estamos crescendo no mercado, pelo interesse que a gente vê, pelo voo e pela missão de despertar o interesse no jovem, que não é só jogar, você também pode trabalhar com isso, pode sobreviver, pode ganhar a vida, pode ser empreendedor, ou trabalhar. Eu quero ser desenvolvedor, eu quero ser artista, eu quero ser design, e hoje você poder fazer isso como uma profissão. Aqui no Brasil precisa ser entendido como sendo uma profissão legítima e sólida como carreira, então a gente precisa ter essa iniciativa no poder público também, dentro da jornada pública de ensino, são essas duas primeiras barreiras. Eu acho que é, tanto acesso, quanto a parte de ensino público e tem também a barreira do empreendedor.

Games e desenvolvimento de games precisa ser entendido como setor estratégico. Mas, vamos entender que estamos falando de um setor de empregos de alta qualificação, que você pode começar com nenhuma, porque o jogo que você começa, por exemplo, em áreas que não precisa de conhecimento prévio, você pode começar a desenvolver realmente já trabalhando, então a barreira de entrada de conhecimento é baixa, você pode desenvolver ao longo do caminho, mas também uma área de soft Skills e de soft power também, e é uma área que querendo ou não, conjunta com tecnologia, nós temos uma cultura aqui no país a adoção da tecnologia. O brasileiro gosta de tecnologia, nos interessamos por tecnologia, ela só precisa ser acessível, quando ela for acessível, o próprio brasileiro consome. Acessível tanto em hardware quanto devices, quanto também na parte de acesso a conteúdo. Então, a gente poder ter mais distribuições, distribuição de conteúdo, distribuição de não só plataforma, de seleção, mas realmente mais conteúdo para ser consumido, a gente não vai ter só 5 ou 10 jogos mais jogados no país todo, sendo estrangeiros, a gente também precisa ter incentivado 10 jogos, pelo menos 2, 3 ou 4 sejam nacionais, isso é o nosso sonho que a gente quer.

NN: E não se trata de uma proteção de mercado, se trata não apenas de crescimento e fomento do mercado.

RT: Aquecimento e fortalecimento. Não é proteger, o mercado de games é muito legal, porque você pode ter apenas três pessoas fazendo um jogo. Você já tem o potencial de ser uma empresa internacional, um grupo internacional, vender ou distribuir seu jogo globalmente.

Pela forma como o mercado se desenhou nos últimos 20 anos, tem versão digital, você já consegue construir um jogo e distribuir ele no mundo inteiro.

O que vai fazer diferença de você e da concorrência é como você trabalha como empresa. Qual vai ser o seu interesse em fazer como empresa. Você cresce com as oportunidades também. Não é só uma questão de você trabalhar duro. Existe um ecossistema que precisa ser entendido, melhorado, para ele te dar oportunidades para você começar, depois para você crescer mais um pouquinho, um pouquinho, e esses passos serão parte da sua jornada, e quando você tiver maduro, já tiver com sua empresa rodando, já tiver lucrando, você também vai contribuir um pouquinho pro ecossistema ou entorno.

NN: Existe no mercado, eu acompanhei e acompanho diariamente notícias, empresas internacionais dando cursos, empresas dando pequenas contribuições de crescimento tecnológico e também na área de jogos. Eu participei de uma entrega de prêmio de uma empresa de informática, de um curso que eles deram, acho que de 15 dias, de criação de jogos. Eu vi coisas fantásticas, em 15 dias, pessoas partiram do zero, e fizeram coisas legais, e esse tipo de iniciativa é apoiada ou é compartilhada, para a AbraGames ou vocês acabam, às vezes, passando em branco, sem saber que está acontecendo?

RT: A gente tem uma questão na associação, ela está crescendo. Mas ela é ainda muito, muito enxuta, então, às vezes, sendo bem transparente, falta braço, falta voluntário, falta gente mesmo para a gente poder conseguir olhar de uma forma mais completa para todas as iniciativas que estão acontecendo.

Então a gente depende muito também do mercado, das iniciativas mostrarem interesse de chegar na AbraGames, bater na porta “olha o que eu estou fazendo”, porque assim a gente consegue ver. Por conta mesmo da própria situação, a gente tem trabalhado para fazer crescer, a Associação pode ter mais recurso para conseguir aumentar inclusive essa escuta de mercado, para estarmos mais ativos, mas como a gente sabe que tem várias iniciativas que estão acontecendo nas empresas, dando cursos e etc…, precisa bater na nossa porta também, e entender que a AbraGames está nesse papel também de receber, entender e ouvir essas iniciativas.

AbraGames. Rodrigo terra - Foto de divulgação
Rodrigo Terra

NN: A AbraGames pretende próximo, ou no futuro mais distante, criar cursos, programas de instrução, de atualização, para ajudar o pequeno desenvolvedor, o estudante a se tornar um desenvolvedor, ou alguém que não sabe nada a ter um curso EAD, ter um curso online gravado, para que ele possa acessar e começar a aprender para ajudar esse crescimento?

RT: Nós temos todo o interesse. A AbraGames, exatamente, não tem o foco fazer um programa de ensino, mas o que queremos, e já fazemos, são as parcerias. Então, por exemplo, nós temos um programa em conjunto com o SEBRAE nacional, que é para formação, tanto de consultores para poder conseguir fazer uma apostila macro de treinamento e atualização de consultores para quê na ponta, esse consultores levem para o Sebrae locais e que nós possamos ser uma rede melhor para atendimento do pequeno empreendedor que está lá.

O Sebrae como uma porta de entrada é uma das formas que a gente encontra para olhar e fomentar o empreendedor.

Ao mesmo tempo tem a parte de ensino. Nós também buscamos e visamos tentar criar parcerias, seja público, seja privado para que nós consigamos também fazer esse diálogo com o mercado, eu acho que muito do valor que a AbraGames pode trazer, é esse diálogo no mercado.

NN: Hoje, quem está começando a desenvolver, tem um esqueletinho do jogo, começou a programar o gráfico, começou a montar o enredo do jogo, está começando. O que a AbraGames oferece? Como abraçar ele, dar de apoio a ele nesse momento?

RT: Temos as parcerias. Então nós temos um diálogo constante e queremos aumentar cada vez mais o diálogo e trazer para o entendimento das redes regionais ou da própria AbraGames, como sendo uma entidade nacional, que nós olhamos para todo o território, até por conta de capacidade que a gente tem, mesmo acreditando que o modelo não seria exatamente esse o ideal.

Para mim, um indicativo excelente de maturidade mercado é que nós temos organizações regionais, ou seja, cada estado também pode construir a sua própria entidade, seja uma associação, um coletivo, mas que também consiga dar vazão e poder juntar esses profissionais e as empresas locais.

A AbraGames, é uma associação de empresas, CNPJs. Vale lembrar que MEI é empresa. Isso é bem claro. Às vezes nós esquecemos, é uma empresa de uma pessoa só, mas MEI é uma empresa.

Se você presta serviços, porque você está fazendo mapas, cenários ou artes conceituais, e etc…, você é uma empresa. Mas uma associação são vários CNPJs. Nós queremos dar uma performance de capilaridade muito melhor para o trabalho que as regionais têm feito nos seus estados, nas suas cidades nas suas regiões. Porque são eles que conseguem fazer um entendimento melhor do ecossistema local.

Como que você consegue abraçar melhor esse desenvolvedor que está começando? Esse estudante que está querendo olhar para começar por ali ou por aqui? A Regional consegue trazer uma velocidade entendimento maior, por ela estar vivendo o momento daquele local.

Então, através dessas parcerias, através desses alinhamentos que a gente busca fazer, e que nós temos conquistado aos poucos, e também esse entendimento de que o mercado é um só, mas cada um atuando na sua granularidade, ou seja, a regional olhando para o mercado local, para aquele estudante, para aquele desenvolvedor, e quando você olha para o espectro nacional, você ter a AbraGames para poder te abraçar e poder te representar.

NN: Duas perguntinhas para finalizar: A primeira é como você tem sentido, já que a AbraGames tem levado o Brasil para diversos países, para diversas feiras de jogos e desenvolvimento, a receptividade dos nossos jogos fora do país?

RT: A recepção é muito legal! É um trabalho, uma construção que vai fazer 10 anos no ano que vem, em 2023. Eu vejo hoje um encantamento pela temática, primeiro muitos dos nossos estúdios têm o DNA cultural que conseguem imprimir no jogo.

Claro que tem alguns que acabam entrando na cultura local, que tem uma função muito forte, ou seja, ele acaba sendo reconhecido por uma comunidade e acaba não expandindo estruturalmente, mas tem estúdios que pegam isso e tem o seu mérito, sua intenção e o seu propósito objetivo para fazer assim, mas tem aqueles que estão pegando essa mesma cultura e estão universalizando, ou seja, estão criando jogos, que estão mostrando uma diversidade em diversos temas, uma visão multicultural, que a gente tem aqui no Brasil e colocando isso no jogo, para que seja reconhecido internacionalmente em termos de roteiro de gameplay, de gráficos e trazendo elementos da cultura brasileira da mais diversas possível.

Não estamos falando de cultura do Sudeste, Nordeste ou Sul, estamos falando desses polos, que a gente tem que fortalecer suas identidades culturais locais e criar jogos universais. Eu acho que quando nós levamos para fora do país, quando o jogo está nesse nível, não só o consumidor estrangeiro, os players de fora do Brasil, começam a falar isso aqui é novo! Esse jogo pra mim é novo, esse aqui não é mais um bullet hell, não é mais um plataforma. Ele pode ser um plataforma, ele pode ser um bullet hell, enfim, um RTS, não importa, o que importa é como que esse desenvolvedor trouxe um frescor para o gênero, é o que me importa e a surpresa do trabalho, não é só surpresa do nada, mas é para o mérito dos estúdios também.

Nós temos grandes e médias empresas aqui do país, que tem feito exportação, já sabem o segredo da receptividade, que é de inovação, de frescor do tema, de originalidade no gênero. Isso é o que aponta o que o consumidor internacional está buscando. Ele não quer mais um jogo de medieval, que vai falar sobre a mesma coisa no mesmo tempo, ele quer alguma coisa nova, ele quer se surpreender, e quem vai trazer esses novos jogos são os desenvolvedores brasileiros, latino-americanos. Nós temos esse olhar do mundo para o Brasil, pelo frescor da inovação em termos de diversidade, da forma como estamos no mercado, isso tem sido sensacional.

NN: A pergunta final vai ter duas partes. A primeira é muito fácil: como entrar em contato com a AbraGames. Qual o mínimo que eu preciso já estar pronto para entrar em contato com vocês hoje.

RT: Legal. Boa pergunta. O contato da AbraGames é contato@AbraGames.org. E o site www.AbraGames.org. Estamos sempre disponíveis para responder os e-mails. Buscamos ter uma responsabilidade muito grande em cima de todos os contatos que a gente tem. Os interesses da associação também são muito importantes.

Para começar a participar da associação, nossa demanda inicial é que seja um CNPJ, por que nós conseguimos apoiar você de uma forma, com todos os programas, com todos os benefícios, conseguimos trazer você para dentro do ecossistema, e te apresentar toda essa jornada que a gente acredita que é uma jornada que funcionou ao longo dos anos e que na verdade está passando por transformações e melhorias para podermos agora atender essa demanda esse mercado que ganhou visibilidade ganhou destaque, que é o nosso mercado de desenvolvimento. E que quiser atualizar sua empresa, para poder entender esse novo momento, com novos investimentos entrando, novos players que nunca se interessaram por games, que está olhando para games agora, isso está trazendo um movimento e investimentos muito grandea, temos que preparar as nossas empresas para isso. E como eu comentei, MEI é empresa. Você pode ter o seu pequeno negócio, não tem o menor problema.

Se você acredita que você é um profissional que já tem capacidade de atender o mercado internacional, algumas demandas serão necessárias, no caso o inglês, para fazer materiais em outras línguas, é muito importante para poder entrar no mercado internacional, existem outras demandas que seu estúdio precisa ter.

Você pode ser uma pessoa, podem ser duas pessoas, se já quer começar a produzir, ninguém está falando que precisa começar direto. Existem os níveis de maturidade que a gente tem dentro da AbraGames, dentro da Brasil Games, que vão atender desde a base.

Estou começando, abri meu CNPJ agora ou uma empresa que está faturando os seus milhões por mês, como é que conseguimos aumentar a presença internacional? Nós temos apoio para todas os seguimentos. Fica o convite fica para conhecer um pouquinho mais AbraGames, para entender se você está nesse momento de abrir o CNPJ, fale com a gente, vamos ter todo prazer te receber de braços abertos e para fazer parte da associação.

Banner de parceria com Brasil Game Show

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Sgt Rock 1967

Eduardo "Sgt Rock 1967" Rocha é o idealizador do Nós Nerds! Técnico em informática e gamer inveterado e veterano.

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