Halo e a Estética do Canto Gregoriano
Fala galera, como vocês estão? No artigo de hoje, hoje vamos falar a respeito da trilha de um dos jogos que eu mais gosto, senão o que eu mais gosto, que é HALO! Vamos falar da abertura do tema principal do jogo, aquela música instrumental vocal que aparece logo no início.
O Canto Gregoriano
O início da trilha trata-se de um Canto Gregoriano, uma estética musical que predominava na Idade Média. E o que DIABOS um Canto Gregoriano da Idade Média, lá dos séculos XI ou XII, foi fazer num jogo de ficção científica, ambientado lá pelo século XXVI???
O canto gregoriano era a música utilizada pela Igreja Católica Romana em suas liturgias e se caracteriza por ser uma música vocal, sem acompanhamentos, embora em Halo esse detalhe da falta acompanhamento tenha sido deixado de lado. Nada mais era do que uma reza, ou oração, cantada. Santo Agostinho, filósofo do cristianismo nascido no ano de 354 d.C, dizia que: “quem canta, reza duas vezes”.
O Canto Gregoriano em Halo
Como já foi dito, o canto gregoriano era utilizado nas liturgias da Igreja Católica, como os Ofícios e, principalmente, as missas. E é exatamente esse o ponto que explica a razão da escolha de um canto gregoriano para Halo.
Um dos principais antagonistas da franquia Halo é o Covenant, uma aliança de raças alienígenas unidas pela adoração religiosa aos Forerunners e pela crença de que os Halos são o caminho da salvação.
A história do universo Halo é GIGANTESCA, e não é a intenção deste artigo falar sobre isso. O fato é que, em um determinado momento dessa história, os líderes dos Covenant, os Profetas, declaram que a humanidade são uma afronta aos deuses. Levados pela adoração, e até mesmo pelo fanatismo religioso, o Covenant declara guerra aos humanos. E é exatamente esse o ponto de conexão entre o canto gregoriano e Halo: a religiosidade do Covenant.
O compositor do tema, Marty O’Donnell, declarou que a ordem que veio da Bungie era de criar algo “antigo, misterioso e épico”. A tradição de canto gregoriano, com as características mencionadas aqui, já se enraizou o suficiente na cultura ocidental para remeter o ouvinte quase que de maneira automática a algo religioso e misterioso quando ouvimos uma peça nesse estilo.
Ainda que nunca tenhamos frequentado um concerto de canto gregoriano ou uma missa nos moldes medievais, a própria exploração do canto por outras mídias, como filmes e séries, se encarregou de ajudar nesse enraizamento. Foi com base nisso que O’Donnell escolheu o canto gregoriano para abrir o tema principal da franquia.
O’Donnell também afirma que se inspirou na melodia de Yesterday, dos Beatles, para criar o tema. Essa inspiração veio somente na sua estrutura. Segundo ele, a melodia de Yesterday está organizada da seguinte forma: tem um ponto alto e um ponto baixo, e é composta por quatro frases irregulares.
A Tecnicalidade do Tema
Não quero deixar o texto muito técnico musicalmente, mas essa é exatamente a organização da melodia gregoriana em Halo. Vou deixar aqui uma imagem com a minha análise da melodia.
Para a galera que estuda música ou curte o assunto, no canto gregoriano, a Igreja utilizava os modos eclesiásticos. Não são exatamente a mesma coisa que os modos gregos, mas trata-se também de escalas musicais sobre as quais eram construídas as melodias.
Não vamos entrar em detalhes aqui neste texto, mas existem oito modos eclesiásticos. Para o tema de Halo, e segundo a minha análise das frases, O’Donnell utilizou o modo dórico na frase 1 e 4 e o modo hipodórico nas frases 2 e 3.
Os estudiosos da música medieval e do canto gregoriano afirmam haver uma conexão de cada modo a um sentimento, ou afeto. No caso dos modos dórico e hipodórico, parece ser consensual entre eles que esse é um modo que remete a tristeza e mistério. Acredito que isso era tudo que O’Donnell queria.
Aliás, sobre afeto e música, podem esperar textos futuros aqui no Nós Nerds!
Resumindo e Concluindo
O canto gregoriano em Halo nada mais representa do que a religiosidade do Covenant e toda a temática religiosa em que o texto se insere. Sim, é um jogo futurista, de ficção científica, mas que aborda também guerras motivadas pela religiosidade, algo que, infelizmente, é comum.
Obviamente, o tema de Halo, depois da melodia gregoriana, toma caminhos diferentes, com cada trecho simbolizando algo diferente. Daria para fazer uma série de vídeos só sobre isso! Diga-se de passagem, quem gravou as guitarras do tema foi nada menos que Steve Vai!
É isso galera, espero que tenham gostado! Peço para que me sigam no Mixer (/FelipeGrisi) onde faço live todos os dias falando, inclusive, de música!
Este texto foi uma adaptação de um vídeo que produzi para o meu canal no Youtube: Som de Jogo. Se quiser conferir a versão em vídeo, é só dar o play aí embaixo!
Até a próxima!
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