Thor: Ragnarok! O Melhor Momento do Deus do Trovão
De todos os super-heróis Marvel que desembarcaram nos cinemas nos últimos nove anos, durante a consolidação do universo compartilhado do cinema, foram os filmes do herói asgardiano que tiveram a trajetória mais irregular até aqui. Passando pelas mãos de diferentes realizadores em cada um dos três filmes (Kenneth Brannagh, Alan Taylor e agora, o estreante Taika Waititi), os dois primeiros filmes tiveram recepção abaixo do esperado (sucessos de bilheteria, sim, mas deixaram algo a desejar no desenvolvimento). Ainda se preocupava muito em aproximar o personagem de sua encarnação nos quadrinhos. E também faltava algo que precisava quebrar o gesso das aventuras do filho de Odin. E finalmente, isto aconteceu.
Em seu primeiro trabalho de destaque, Waititi percebeu o que estava presente em quase todas as passagens do herói pelos filmes do universo compartilhado: o senso de humor misturado ao choque cultural com os costumes terrestres, que rendeu momentos memoráveis nestes últimos filmes. Resumindo: faltava Thor se levar menos a sério. E é o que finalmente temos por aqui. Chris Hemsworth abraça toda a galhofa do personagem e entrega sua melhor performance.
Finalmente sabemos o que ele andou fazendo enquanto seus aliados trocavam insultos e socos em Guerra Civil (2006). Em busca do pai de todos, descobre que Loki (Tom Hiddleston brilha novamente, mas sem roubar a cena para si) tomou seu lugar e governava o reino eterno a seu bel prazer. O problema é que a ausência de Odin leva ao retorno de Hela (uma triunfal Cate Blantchet que, atendendo a um pedido do filho, aceitou o papel), a deusa da morte que vem para reivindicar Asgard e refazê-la à sua imagem.
Começa então o calvário de Thor: depois de ter seu martelo destruído (vocês viram o trailer, né?), acaba jogado em Sakaar, onde o manda-chuva local, o Grão-Mestre (Jeff Goldblum, divertidíssimo), o coloca como gladiador. E logo de cara, seu adversário será o Hulk (Mark Ruffalo), que já está ali há um bom tempo e já era celebridade local. Mas logo os dois se unirão, e com a ajuda de Valkíria (Tessa Thompson, competente e divertida), precisam voltar e impedir os planos de Hela.
Muito se fala do excesso de humor nos filmes da Marvel. Não direi que é exagero porque alguns filmes, de fato, trazem um certo contingente de gags que, em certo momento, podem comprometer o ritmo do filme (Guardiões da Galáxia Vol. 2 quase teve isso). Mas por outro lado, o humor sempre fez parte das interações dos personagens Marvel. Mesmo nas HQs, nos momentos mais tensos de batalha, sempre houve um para soltar uma ironia ou pérola. E as piadas soltas no longa não atrapalham em nenhum momento o ritmo.
O elenco está muito bem entrosado. Além dos já citados, falar de Anthony Hopkins é chover no molhado, visto que ele entrega boas interpretações, já vai no automático. Minha única crítica vai para mal aproveitamento de Karl Urban. O Executor é um personagem cheio de possibilidades como vilão, e sua participação não fez jus ao seu potencial. Fiquem de olhos nas participações especiais de Sam Neill e Matt Damon também.
Mas, para mim, o grande mérito de Thor: Ragnarok, é demonstrar como o universo cinematográfico não precisa ir por caminhos óbvios, mas seguir suas próprias idéias pelo caminho da lógica. Muitos fãs ainda não conseguem discernir e entender que quadrinhos e filmes são dois universos que se relacionam, sim.
Mas não necessariamente, precisam seguir regras estabelecidas. Quando se tem o nome “Ragnarok” no título, muitos esperam que tudo seja como foi concebido por Stan Lee, Jack Kirby ou Walt Simonson anos atrás. Mas como eu já disse, parece já haver um caminho escolhido no cinema ou, ao menos, subentendido. E os direcionamentos de Thor, pelo que vi, serão bem interessantes. Em Vingadores: Guerra Infinita (2018), deverá começar a perceber amostras disso.
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